A luz natural no contexto da arquitetura e do ser humano no quadro residencial

Abstract

A luz natural é um aspeto fundamental do projeto de arquitetura, desempenhando um papel crucial na criação da atmosfera e da funcionalidade de um espaço. Para além do seu apelo estético, a luz natural tem implicações significativas ao nível do conforto, do bem-estar e da produtividade humana. A utilização consciente da luz natural na arquitetura pode contribuir para o aumento da eficiência energética, para promover uma ligação com o ambiente exterior e circundante, e especificamente com a natureza, e contribuir para a criação de espaços visualmente estimulantes e confortáveis. Os principais benefícios da luz natural no projeto dos edifícios são reconhecidos pelos projetistas desde tempo imemoriais. De facto, os arquitetos identificaram, há muito, o poder transformador da luz natural, aproveitando as suas qualidades dinâmicas para criar espaços inspiradores e funcionais que contribuem para a saúde e bem-estar dos ocupantes. Ao utilizar a variabilidade da luz natural ao longo do dia e ao longo do ano, os projetistas têm a oportunidade de localizar os vãos envidraçados de modo a otimizar e a diferenciar a iluminação natural nos diferentes espaços interiores. Adicionalmente, a adoção crescente de práticas de projeto sustentáveis, conduzem, inevitavelmente, a um aumento da maximização da luz do dia como um meio de reduzir a dependência da iluminação artificial minimizando, simultaneamente, os impactes ambientais e contribuindo para a mitigação dos efeitos adversos das alterações climáticas. Valerá ainda a pena apontar que todos estes benefícios relativos a um bom aproveitamento da luz natural no projeto dos espaços arquitetónicos são, ciclicamente, demonstrados em inúmeros inquéritos à satisfação de utentes e residentes, sendo, natural-mente, essenciais em ambientes arquitetónicos que são intensamente usados e ao longo de todo o dia (e respetivas e diferentes condições de luz natural) como são os espaços residenciais e assumindo, ainda, nestes uma importância crítica quando dirigidos para pessoas fragilizadas, que estão mais tempo na habitação e que são mais sensíveis às respetivas condições de conforto ambiental e lumínico, como é, frequente-mente, o caso dos mais idosos. Um outro importante aspeto intimamente ligado à relação entre a luz natural e a arquitetura, incluível na faceta estética, acima apontada com destaque, mas agora numa também muito interessante perspetiva do desenho dos volumes arquitetónicos e das planificações dos respetivos alçados, referimo-nos, aqui, por exemplo, aos claros-escuros e às essenciais “linhas” de traçado, que marcam e caraterizam profundamente o partido arquitetónico globalmente seguido, em cada projeto arquitetónico e os seus essenciais aspetos de pormenorização em termos de composições exteriores, interiores e de transição interior-exterior. Finalmente, importa sublinhar a importância a sempre, em boa parte, menorizada importância que a luz natural tem em promoções habitacionais expressivamente marcadas pelo controlo de custos, como é o caso da habitação de interesse social, seja pela disponibilização dos aspetos qualitativos acima apontados, designadamente, quando estamos em presença de uma redução expressiva de outros aspetos qualitativos, como são a espaciosidade e uma pormenorização mais “rica”, seja por uma razoável mitigação de aspetos dimensionais mais críticos e de falta de comunicabilidade entre ambientes diversos, diretamente proporcionados por um folgado dimensionamento e adequa-das localização e pormenorização dos vãos exteriores, seja ainda pelo protagonismo que uma interessante fenestração assume numa desejada imagem atraente e digna do respetivo edifício. Com a presente comunicação pretende-se iniciar uma reflexão sequencial e, gradual-mente cada vez mais sistematizada (em próximos trabalhos deste tipo), sobre os principais benefícios da utilização da luz natural num contexto de valorização “do natural” em detrimento “do artificial”, tendo como enquadramento geral o aquecimento global e as resultantes alterações climáticas. Procura-se ainda evidenciar as principais estratégias e técnicas de aproveitamento da luz natural em edifícios do tipo residencial e designadamente com controlo de custos, numa situação de busca pelo conforto e bem-estar para os ocupantes, e de garantia de um ambiente luminoso interior funcional que contribui para a eficiência energética dos edifícios.